Fantástico, a Noite dos OVNIs ou Carnaval Militar

Por Marcio Malacarne*

Hoje vi a matéria do fantástico "Aeronáutica libera gravações de diálogos da 'noite oficial dos óvnis'" do dia 22/05/2016 e desde o início dela, cheguei à conclusão: não deve ser fácil para um jornalista estudar tanto para depois ter que narrar tanta besteira em pleno domingo.

Não há nenhuma imagem dos objetos avistados. Apenas opiniões de alguns pilotos e sinais estranhos no radar. Daí não dá pra concluir que sejam discos voadores, como tende a matéria. Mas isso dá audiência.

A primeira coisa que pensei quando comecei a ver a matéria, foi lembrar que, em 1986, o mundo estava ainda em guerra fria, com a Rússia e EUA, polarizando as políticas intenacionais. A Russia era campeã em espionagem e tinha míssies apontados para diversas partes do mundo. Inclusive a região com maior quantidade de indústrias bélica, espacial e militar do Brasil: o Vale do Paraíba, local dos supostos discos voadores.

A analogia é simples. Quando um soldado vai para uma missão numa mata, ele tem que se disfarçar, com uniforme verde musgo e malhado. No caso de um, ou vários aviões em uma missão secreta, é a mesma coisa.

O melhor disfarce, no caso dos aviões, além da possibilidade de se criar formas invisíveis ao radar, o que não foi o caso, é usar o imaginário popular dos discos voadores. Assim, se instala luzes de várias cores e faz um carnaval, com manobras bruscas, para confundir os observadores "inimigos".

Vou enumerar algumas falas que tentam colocar como provas, mas não passam de especulações.

O coronel Ozires Silva avista algo que "parece um astro", mas, segundo ele, "perde a intensidade e desaparece". Não há nada demais aqui.

O tenente Kleber, que tentou aproximação com um avião Mirage, diz que: "não consegui nem se aproximar, nem identificar".

O personagem principal desse episódio é o controlador de voo Sérgio Mota da Silva. Ele conversa com diversos pilotos e diz ter avistado as luzes piscantes.

Veja a conversa com o único piloto que avistou o objeto. "eu não sei. Pra mim parece uma estrela, só que muda de cor. Vermelho, amarelo, azul, branco (...). Tá um barato isso aqui, deve ter umas sete por aqui, pelas contas que to fazendo", diz o piloto. Sem acrescentar mais detalhes.

E continua:

"dois pontos afastados, mas baixo, estão entrando em alinhamento da pista, além da cidade. Tem uns dois altos aqui no alinhamento da pista e uns dois ou três abaixo. (...), continuam se movimentando. Coisa linda meu irmão"

Controlador de voo:

- Pô, tá ficando bom esse negócio.

Esse assunto dá audiência. Outra prova é a opinião de outra reportagem do Fantástico, exibida em 1999, sobre o mesmo assunto. Segundo o capitão Viriato: pelo deslocamento indicado pelos radares, a velocidade era da ordem de 15.000km/h. O fantástico afirma que aviões não atingem essa velocidade. Nesse ponto a reportagem se mostra tendenciosa e sensacionalista ao não afirmar que mísseis podem atingir essa velocidade há muitas décadas antes do episódio. Além disso, não tem prova da velocidade.

O relatório da Aeronáutica da época não afirma sobre a velocidade exata, como o piloto especula. No entanto, afirma que eram velocidades supersônicas de objetos "sólidos e inteligentes".

Existiam, e existem, muitos aviões supersônicos mais potentes que os brasileiros.

Esse caso, na minha opinião, não passa de espionagem militar, muito bem bolada, como um carnaval espacial.

* Astrônomo e coordenador do GOA